quinta-feira, 1 de março de 2012
Uma Porta Para o Mundo
No meio do caos achegar-se a uma casa bonita, grande, com um tapete reciclado na entrada. Sentir as mãos sobre a minha cabeça, querendo me fazer entender que amanhã tem sol, ou depois de amanhã, ou quando for, quando der, mas tem sol. Tem sol no futuro do hoje, enfeitando aquele céu fechado que eu via através das muitas janelas da casa e que parecia mandar no meu peito.
Na minha frente, uma porta grande, verde, talvez feita mais de vidro do que de madeira, que eu tentei desenhar e me perdi nos detalhes, borrei tudo, pensei em dizer que estraguei, mas a porta saiu, tá lá, não muito fiel ao projeto, mas existindo no meu caderno velho, porém bem cuidado. Então que eu pensei em escrever sobre a porta, temendo escrever "porta" e errar o português, mas porque no mínimo escrevendo sou melhor do que desenhando. Escrevendo, descrevendo, comentando e me declarando, principalmente...
Essa arte do se declarar em cada letra, de explicar, de contar estória sobre qualquer coisa. A Dona Porta, à Dona Porta, tão bonita que eu não consegui desenhar direito, que eu trouxe rabiscada que nem a minha fuça pra casa, mas da qual guardo, depois dessa tarde, um carinho imenso por ter ficado a me olhar tanto tempo, deixando que eu a entortasse na minha visão e no meu desenho, e enfeitando a minha tarde, emoldurando o céu, e me lembrando que eu fico melhor tentando escrever, melhor do que falo, do que desenho, do que canto, do que toco, do que reclamo, do que sinto raiva, do que sinto tristeza, porque o meu entendimento dessas coisas chega a ser um número negativo e eu não posso chutar a porta, pintar a porta, desmontar a porta, tentar fazer com ela qualquer coisa que vai dar errado.
Eu nunca tinha notado a tal porta em tantos anos entrando e saindo daquela casa, abraçando gente, acariciando a gata e sentindo vontade de mostrar aquele lugar pra meio mundo, assim como tenho vontade de mostrar o meu desenho pra quem é um desenho que eu tento escrever de vez em quando, mas é difícil mostrar, escrever todos os meus rabiscos, nem todo mundo quer conhecer, e eu não ando conseguindo organizar as palavras. Me deu vontade de pedir: 'Fica, por favor, com a mão na minha cabeça, porque assim parece que eu conheço um jeito de fazer as coisas, com você falando de sol, de amanhã, de caminho, de Deus. Deixa as mãos aí, eu preciso tanto de duas mãos hoje.' Eu quero mãos na minha cabeça, no meu ombro, na minha mão, mesmo que a melhor mão que eu consigo desenhar seja o contorno da minha própria, que tem alguns dedos bem estranhos. Mas eu cuido da minha mão, eu cuido desse caderno, eu cuido dos meus desenhos que são iguais à minha fuça, e eu tenho tentado escrever isso tudo quase todos os dias.
Por Denise Dantas Cassanego.
@deniselee_
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